Eletrobras defende mudança do papel da hidrelétrica no sistema elétrico
Empresa vê espaço para que as hidrelétricas sejam remuneradas para atuar como “baterias naturais”.
A Eletrobras defendeu nesta quarta-feira (30) a adoção de mudanças regulatórias que alterem o papel das hidrelétricas no sistema elétrico brasileiro. Dona de 35 hidrelétricas, a empresa vê espaço para que as hidrelétricas sejam remuneradas para atuar como “baterias naturais”, num modelo diferente do atual, no qual essas usinas respondem por cerca de dois terços da geração de eletricidade brasileira.
Segundo Italo Freitas, vice-presidente executivo de engenharia de expansão e comercialização da Eletrobras, o Brasil tem sido visto como um dos três países com melhores condições para produção de hidrogênio verde, por ter um sistema de transmissão robusto e que integra o país, bem como uma grande e barata produção de energia hídrica.
Porém, um dos desafios para o hidrogênio verde, afirmou, é a resiliência do sistema. Freitas observou que uma das possíveis causas do apagão ocorrido no dia 15 de agosto é a falta de inércia, que em linhas gerais é um dos fenômenos elétricos que garantem o equilíbrio do sistema de transmissão.
Freitas destacou que as hidrelétricas são as únicas fontes que podem garantir a inércia do sistema, mas para isso, precisa ser remunerada por esse papel. “Isso permeia a competitividade do hidrogênio”, disse Freitas, em participação do Prumo Day 2023, realizado pela Prumo Logística.
O executivo disse também que a liberação do mercado de energia para todos os consumidores é importante, porque a demanda “precisa aparecer para todas as elétricas”.
Como a demanda está estável e os preços estão “deprimidos” por causa dos reservatórios cheios, a liberalização do mercado precisaria ocorrer mediante mudanças regulatórias importantes.
O cenário de preços baixos e demanda baixa se configura, segundo ele, por causa da “onda silenciosa” da geração distribuída, que avançou rapidamente nos últimos três anos, e pela adoção, por várias indústrias, de um modelo de autoprodução em parceria com empreendedores de energias renováveis, com prazo de contrato de 15 anos.
Freitas salientou que embora o sistema elétrico esteja com excesso de demanda, num cenário oposto, de seca por dois ou três anos, a folga desaparece e o mercado “fica em pânico” por mais eletricidade.
Já o presidente da Neoenergia, Eduardo Capelastegui, também presente no Prumo Day 2023, disse que é preciso mudanças regulatórias para a abertura do mercado de energia.
Entre elas, adoção de regras que estabeleçam mais segurança na comercialização de energia, com exigência de garantias mais rígidas e comprovação de lastro (contratos) para evitar situações como quebra de “traders” que quebraram nos últimos anos por causa de choques de preço, para cima ou para baixo. “A regulação tem que ser mais exigente”, disse.
Capelastegui vê que o mercado não está pronto para a abertura total para a baixa tensão e recorda que em janeiro entra em vigor a liberação para clientes conectados em média e alta tensão com carga abaixo de 0,5 megawatt (MW).
Um dos problemas é a disparidade dos preços da energia dos contratos firmados com as distribuidoras, em média de R$ 300 por megawatt-hora (MWh) com os do mercado livre, da ordem de R$ 160/MWh.
Esse cenário faria com que as migrações tornem-se mais atrativas, o que pode desequilibrar a distribuição, que faz a gestão dos contratos de seus clientes – a compra de energia para suprir as áreas de concessão é obrigatória, com prazos que variam entre 15 e 30 anos.
Charles Fernandes, diretor-geral da TotalEnergies no Brasil, disse que a companhia está observando o mercado de eólicas offshore, mas pondera que o mercado ainda não está maduro. “Eólicas offshore ainda são emergentes. Ainda não estamos maduros em como o processo de licenciamento vai ser feito.”
Segundo Fernandes, citando estudo da WoodMackenzie, serão necessários cerca de US$ 26 bilhões em investimentos globais até 2026, excluindo a China, para que as eólicas offshore alcancem um patamar importante.
Capelastegui, da Neoenergia, diz que deve levar cerca de quatro a cinco anos para que projetos de eólicas offshore se tornem mais concretos, mas garante que existe demanda: “isso vai levar anos para se desenvolver e ainda temos muita oferta onshore. Um projeto eólico offshore leva cerca de 38 meses entre a construção e o início da operação.”